COMO SER FELIZ EM DOIS MINUTOS
Lembro-me de quando criança que estes dias eram os melhores, pois nossa mãe nos enchia de bolinhos de chuva e chocolate quente.Unh! Que delícia ficar em casa, não ir à escola, brincar de cabana de índio no quarto e não ter preocupação com nada desta vida.
O dia custava a passar, parecia que uma tartaruga o carregava nas costas. Nós aprontávamos mil e uma peraltices, somos cinco, e a brincadeira, as brigas se manifestavam e acabavam com o olhar severo de nossa mãe com o chinelo na mão. Olha que ela não tinha o avental sujo de ovo, como retratou o poeta na célebre música cantada por Ângela Maria.
Bons tempos aqueles vividos com dignidade por qualquer família de baixa renda deste nosso Brasil. Naquela época, a bem da verdade, tudo funcionava, inclusive o respeito com o ser humano. Havia uma reciprocidade, uma convivência pacífica entre os vizinhos da rua que com solidariedade se irmanavam nas festas e nos velórios. O nascimento, o casamento e o enterro faziam parte do todo. Éramos unidos por um laço que nos tornavam verdadeiros irmãos.
Na nossa cidade, sabíamos que existia a polícia, mas nunca a víamos em ação. Ladrão só roubava galinha e, quando roubavam uma das nossas, nossa avó dizia com as sobrancelhas franzidas: - “Este quando morrer vai ser envolto em penas!” E nós visualizávamos o ladrão morrendo engasgado com as penas de galinha.
Quantas lembranças adentram em nossa cabeça, enquanto a chuva escorrega mansamente pela vidraça de nossa janela. Nestes dias, não tínhamos nenhuma obrigação, pois nossa mãe não nos permitia sair porque o golpe de ar nos resfriaria. Ela tomava para si todas as nossas tarefas, inclusive o colocar o milho para as galinhas.
Dignidade, honradez, família, convívio social e respeito pela vida alheia eram a marca de tempos que não voltam mais. O meu pai morreu dizendo que tudo se deve a entrada da televisão nos lares, pois ela acabou com a família, trazendo tudo que não presta para o LAR DOCE LAR das placas que enfeitavam as fachadas das residências.
Antes, todos reunidos às refeições, após as orações de agradecimento, ouvíamos, em silêncio, nosso pai conversando com nossa mãe sobre os últimos acontecimentos e todos unidos em volta de uma simples mais farta mesa de congraçamento familiar.
Atrás de mim, ouço uma voz estridente que me tira dos dois minutos de felicidades e diz com a rispidez que a vida moderna nos impõe :
- “HOJE É DIA 05, TEMOS QUE PAGAR O CONDOMÍNIO, O PLANO DE SAÚDE, O IPTU, A FACULDADE A LIGHT, O GÁS, ETC... E A CHUVA NA VIDRAÇA BATE COM TODA A INTENSIDADE NOS CHAMANDO PARA A REALIDADE DA VIDA!”
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